A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Uma Morte Súbita


Barry Fairbrother não tinha vontade de ir jantar fora. Aguentara uma enorme dor de cabeça durante grande parte do fim de semana e debatia ­se agora com a data ­limite para entregar um artigo para o jornal local.
No entanto, a sua mulher mostrara ­se um pouco rígida e pouco comunicativa durante o almoço e Barry deduzira que o seu bilhete de congratulações pelo aniversário de casamento não conseguira mitigar o crime de se ter trancado no estúdio durante a manhã inteira. Também não ajudara nada o facto de ter estado a escrever acerca de Krystal, a qual Mary detestava, embora fingisse o contrário.
«Mary, quero levar ­te a jantar fora», mentira ele, para quebrar o gelo. «Dezanove anos, meus filhos! Dezanove anos de casamento e a vossa mãe nunca pareceu tão bela.»
Mary amansara um pouco e sorrira, e Barry decidira então tele­fonar para o clube de golfe, porque ficava ali perto e de certeza que arranjariam mesa. Tentou agradar à sua mulher com pequenos gestos, porque, após quase vinte anos de vida juntos, acabara por se aperceber de como a desiludia frequentemente nas coisas importantes. Nunca o fazia intencionalmente. Tinham simplesmente noções muito diferentes daquilo que deveria ocupar mais espaço na vida.
(…)
Foi então que uma dor como nunca sentira lhe trespassou o cérebro como uma bola de demolição. Mal sentiu a dor nos joelhos quando embateram no alcatrão frio; o crânio explodia ­lhe em fogo e sangue; a agonia era excruciante e para lá de qualquer tolerabilidade, só que tinha de a tolerar, pois o olvido só o pouparia um minuto depois.
Mary gritou — e continuou a gritar. Vários homens saíram a correr de dentro do bar. Um deles desatou a correr para dentro do edifício para ver se algum dos médicos reformados do clube estava presente. Um casal conhecido de Barry e Mary ouviu a agitação lá de dentro do 13 restaurante, abandonou as entradas que estava a comer e apressou­se para a porta para ver em que poderia ajudar. O homem ligou para as emergências pelo telemóvel.
A ambulância teve de vir da cidade vizinha de Yarvil e demorou vinte e cinco minutos a chegar à porta do restaurante. Quando a luz azul intermitente do giroscópio deslizou sobre aquele cenário, Barry estava caído inerte no chão, no meio de uma poça do seu próprio vómito; Mary estava agachada ao seu lado, com os joelhos das calças justas rasgados, a agarrar­lhe a mão, a chorar e a murmurar o nome dele.



It's completely addictive!


Mesmo sabendo que não estava relacionado com o título original, ao pegar no livro pela primeira vez pensei que estava perante um romance policial ou algo do género que envolvesse uma investigação de uma morte que a todos apanhava de surpresa. No entanto, à medida que ia devorando as páginas (sim é mesmo esse o termo), apercebi-me que esta história nada tinha de policial e que a morte de Barry Fairbrother apenas servia de pretexto para J. K. Rowling nos dar a conhecer a pequena cidade de Pagford e os seus habitantes.


Com uma escrita bastante fluída e que nos prende desde as primeiras linhas, somos transportados numa viagem ao quotidiano desta cidade e vamos acompanhando a rotina destas pessoas, os seus relacionamentos e problemas e as intrigas próprias de um local onde todos se conhecem. Não consigo escolher um personagem preferido nem um momento da história que considere crucial, pois até à última página é completamente imprevisível o que vai acontecer a cada uma daquelas pessoas individualmente e à própria cidade mergulhada num conflito antigo.


Depois de me ter conquistado com o seu menino feiticeiro, J.K. não me decepcionou com este livro e mostrou-me um lado diferente. Gostei muito!