A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

domingo, 23 de junho de 2013

O Despertar da Magia (As Crónicas de Gelo e Fogo #4)


Arquejando, a mulher agachouse e abriu as pernas. Sangue escorreulhe pelas coxas, negro como tinta. O grito dela podia ter sido de agonia, de êxtase ou de ambas as coisas. E Davos viu o topo da cabeça da criança a abrir caminho para fora dela. Dois braços libertaramse, agarrandose, com dedos negros que se enrolavam em volta das coxas retesadas de Melisandre, empurrando, até que a sombra deslizou por completo para o mundo e se ergueu, mais alta do que Davos, tão alta como o túnel, pairando por cima do barco. Teve apenas um instante para olhar para ela antes que desaparecesse, retorcendose por entre as barras da porta levadiça e correndo pela superfície da água, mas esse instante foi mais do que o suficiente.
Conhecia aquela sombra. E conhecia o homem que a lançava.


Apesar do ritmo mais lento deste volume e do anterior (isto quando comparados com os dois primeiros), não consigo classificá-lo como menos de 5 estrelas. 
Dou por mim a embirrar com personagens que até simpatizava e vice-versa, tão depressa amo, como logo a seguir já odeio e apetece-me entrar dentro das páginas do livro e fazer parte daquela guerra em que a maior parte dos intervenientes são completamente loucos e sedentos de poder.


George Martin tem a incrível capacidade de nos surpreender e desiludir, com uma escrita arrebatadora que me vai fascinando cada vez mais à medida que avanço nestas Crónicas de Gelo e Fogo e na luta aberta pelo Trono de Ferro.  

sábado, 15 de junho de 2013

Segredos Imorais (Jonathan Stride #1)


Então ela apareceu, como se saindo de nenhures, com um aspecto etéreo sob a luz fraca de um candeeiro de rua. Até abriu a boca ao ver o quanto era bela. O pulso acelerou e mais suor a formar uma película pegajosa debaixo dos braços e na parte de trás do pescoço. Tinha a boca tão seca que nem conseguia engolir. Quando ela se aproximou, os olhos dele observaram-na. Tinha lábios vermelhos carnudos e cabelo preto que lhe caía em madeixas molhadas abaixo dos ombros. O frio ruborizava-lhe as faces, mas não o suficiente para colorir o tom cremoso, de alabastro, da pele. Uma única argola a balouçar num clarão dourado da orelha esquerda e uma pulseira de oiro lassa no pulso direito. Era alta e dava passos longos, apressados. Vestia uma camisola branca de gola alta sobre o torso alto, o tecido húmido a colar-se ao corpo. As  calças de ganga pretas muito justas.



Um policial muito bom, com um enredo espectacular e muito bem desenvolvido. Uma escrita simples e nada monótona, com capítulos curtos que dão um óptimo ritmo à acção. A juntar a tudo isto, o livro divide-se em quatro partes e quando, no final da terceira, parece que está tudo resolvido, temos um salto no tempo que nos leva a conhecer novos personagens e à resolução do crime de uma forma completamente inesperada. 

Nota-se muito que aconselho esta leitura? Só deixo uma dica, atenção aos pormenores que vão sendo lançados logo a partir das primeiras páginas ;)

domingo, 9 de junho de 2013

Anna e o Beijo Francês


– Claro. Até amanhã. – Tento falar num tom casual, mas estou tão entusiasmada que assim que saio do quarto dela choco com uma parede.
Ups. Não é uma parede. É um rapaz.
– Ahhh! – Ele cambaleia para trás.
– Desculpa! Lamento imenso, não te vi.
Ele abana a cabeça, um pouco tonto. A primeira coisa em que reparo é no seu cabelo. É castanho-escuro, despenteado e simultaneamente comprido e curto. Penso nos Beatles, uma vez que acabei de os ver no quarto da Meredith. É um cabelo artístico. Cabelo de músico. Um cabelo do tipo eu-finjo-que-não-me-importo-mas-importo.
Um cabelo lindo.
– Não faz mal, também não te vi. Estás bem?
Uau! Ele é inglês.
– Hum. A Mer mora aqui?
Sinceramente, não conheço nenhuma miúda americana que resista ao sotaque inglês.
O rapaz pigarreia.

Não tinha grandes expectativas quando peguei neste livro, mas pareceu-me uma boa opção para uma leitura leve. Não me enganei nem um bocadinho e ainda fiquei surpreendida. 
A história não é nada do outro mundo, o típico romance de adolescentes que todos já lemos uma vez ou outra. O que, na minha opinião, tornou esta história banal digna de ser completamente devorada foi a simplicidade da escrita utilizada e a maneira como a cidade de Paris nos é apresentada pelos olhos da Anna. É fácil simpatizar com ela e com o St. Clair e ficar a torcer para que consiga o tão esperado beijo francês, mas que não surge durante as primeiras páginas e nós vamos lendo mais e mais sempre à espera que aconteça no parágrafo seguinte ou na página seguinte. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Fúria dos Reis (As Crónicas de Gelo e Fogo #3)

A cauda do cometa espraiavase pela madrugada, um corte vermelho que sangrava por cima dos penhascos de Pedra do Dragão como uma ferida num céu de rosa e púrpura.
O Meistre estava em pé, na varanda varrida pelo vento, do lado de fora dos seus aposentos. Era ali que chegavam os corvos, depois de longos voos. Os excrementos das aves sarapintavam as gárgulas que se erguiam a uma altura de três metros e meio, de ambos os lados, um mastim do inferno e uma viverna, dois exemplares do milhar que cismava empoleirado nas muralhas da antiga fortaleza. Quando chegara a Pedra do Dragão, o exército de grotescas esculturas de pedra costumava deixálo incomodado, mas com a passagem dos anos, foraselhes acostumando. Agora, pensava nelas como em velhas amigas. Os três observaram juntos o céu, assaltados por pressentimentos.
O Meistre não acreditava em presságios. E no entanto… apesar de ser tão velho, Cressen nunca vira um cometa com metade do brilho daquele, nem daquela cor, daquela cor terrível, a cor do sangue, da chama e dos ocasos. Perguntou a si próprio se as suas gárgulas já teriam visto algo de semelhante. Já ali estavam longo tempo antes de ele chegar, e ainda lá permaneceriam muito depois de partir. Se línguas de pedra falassem…

Depois de toda a acção dos primeiros volumes, com a apresentação dos personagens e os desenvolvimentos trágicos no final, as expectativas eram demasiado grandes. Apesar da escrita continuar soberba (algo a que George Martin nos habitua logo nas primeiras páginas) a acção torna-se um pouco mais lenta mas, na minha opinião, nem por isso menos merecedora da classificação de 5 estrelas...