A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Marina


Marina disse-me uma vez que apenas recordamos o que nunca aconteceu. Passaria uma eternidade antes que compreendesse aquelas palavras. Mas mais vale começar pelo princípio, que neste caso é o fim.
Em Maio de 1980 desapareci do mundo durante uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro. Amigos, companheiros, professores e até a polícia lançaram-se na busca daquele fugitivo que alguns já julgavam morto ou perdido por ruas de má fama como num lapso de amnésia.
(…)
Não sabia então que o oceano do tempo mais tarde ou mais cedo nos devolve as recordações que nele enterramos. Quinze anos mais tarde, a memória daquele dia voltou até mim. Vi aquele rapaz a vaguear por entre as brumas da estação de Francia e o nome de Marina tornou-se de novo incandescente como uma ferida fresca.
Todos temos um segredo fechado à chave nas águas-furtadas da alma. Este é o meu.

É com estas palavras que Ruiz Zafón nos transporta a uma Barcelona no início de 1980 na companhia do Óscar e nos apresenta Marina, a sua amiga.

Com o toque de génio, numa escrita simples e ao mesmo tempo profunda que já tinha conhecido em A Sombra do Vento, este livro voltou a agarrar-me desde as primeiras páginas e foi difícil de largar até conhecer o desfecho destas personagens. 



A premissa era simples: um rapaz que conhece uma rapariga, tornam-se inseparáveis e vivem uma aventura numa Barcelona perdida algures no tempo no final da década 1970. Quando comecei a ler vi rapidamente umas quantas semelhanças com A Sombra do Vento, mas este livro é em tudo diferente desse. Se por um lado temos na mesma um adolescente como protagonista, toda a restante ação e desenvolvimento têm lugar num outro universo. As semelhanças podem estar lá noutros momentos, mas a magia desta narrativa é completamente diferente e o seu desfecho foi, para mim, algo imprevisível. Se por um lado, devido, não só ao título do livro, mas também às primeiras frases que nos apresentam Marina, estava subentendido que o destino de Marina era um tanto ou quanto incerto, e apesar de lá pelo meio haver uma luz do que poderia vir a acontecer, confesso que ao chegar ao final e perceber o que realmente sucedia fiquei algo surpreendida, mas são estes pequenos pormenores que fazem com que estas estórias passem de "vulgares" a especiais. Percebo perfeitamente quando Ruiz Zafón afirma que de todos os livros que publicou este é um dos seus preferidos.



Classificado, muitas vezes, como uma estória para crianças, para mim vai muito para além disso. É um livro que apaixona qualquer adulto! Recomendo, absolutamente, a leitura desta estória arrebatadora, que mistura a realidade e fantasia em diversos aspetos e que muitas vezes nos deixa a pensar nesta frase inicial e no seu significado...

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