A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

sábado, 4 de julho de 2015

Inverno de Sombras


— A Ordem de São Jerónimo só foi um refúgio seguro enquanto nos mantivemos dentro do Mosteiro — disse o monge de pele escura, olhando a caixa.
Todos os outros acenaram em concordância.
— Agora a ordem foi dissolvida… — lamentou o rosto jovem.
— E todos nós teremos de abandonar o Mosteiro — completou o monge calvo, numa voz trágica.
— Alguém tem uma sugestão do que devemos fazer? — perguntou Frei Lourenço, focando o diálogo na solução. — Presentemente, somos os guardiões e, embora nada nos tenha preparado para esta prova, temos o dever de encontrar o caminho certo.
Permaneceram em silêncio. Os seus olhares de volta ao conjunto de mãos que se juntava.
— Se não há mais nenhuma ideia, penso que a minha proposta terá de servir — disse Frei Lourenço, num suspiro que não mostrava alívio, apenas resignação. — Alaíade terá de ser unificada e um de nós terá de ficar com ambas. A Caixa e a Chave.
O secretismo do encontro conteve o murmurinho de inquietação que agitou os homens de Deus, e apenas os seus olhos inquietos tiveram a liberdade de se cruzar e partilhar o nervosismo.
O monge de nariz proeminente formulou a pergunta que era de todos:
— Quem? Qual de nós terá de as guardar?
Um suspiro de pesar. Quatro olhares nervosos.
— Tu — disse Frei Lourenço para o rosto mais jovem entre eles.
Todas as velas se elevaram até aos rostos daqueles que as carregavam e as suas chamas foram apagadas por seis sopros silenciosos.
O que se passaria a seguir ninguém devia ver.

Quem disse que não há bons escritores de Fantasia em Portugal?! 
Fãs do género, têm de ler L. C. Lavado! 
Este Inverno de Sombras é viciante desde a primeira página!

Acabei a leitura esta semana e acho que ainda estou de ressaca com tudo o que li! 
O livro está dividido em duas partes que poderiam ser dois livros independentes. Ao chegar ao final da primeira parte, pensei que já não me ia surpreender mais pois os acontecimentos que levaram aquele desfecho eram dignos de um final de um livro. Não podia estar mais enganada! A cada página que virava, uma nova revelação e não consigo escolher a que mais me surpreendeu...

Com uma escrita bastante simples e fluída e um desenrolar de acontecimentos bastante rápido mas fácil de acompanhar, fui redescobrindo uma cidade pela qual há muito me apaixonei... Para quem, como eu, está habituado a ler Fantasia, adorei ter andado pelas ruas que me são familiares e lugares que conheço bem redescobrindo um novo mundo paralelo, juntamente com pessoas absolutamente "normais" (ou então não)...

A classificação de cinco estrelas sabe a pouco, num livro que me obriga a fazer noitadas por não conseguir largar e, chegando à última página, me deixa a olhar para a palavra FIM sem ser capaz de fechar...

Parabéns à Liliana Lavado por me ter feito devorar as quase seiscentas páginas que o livro tem em pouco mais de uma semana! 
(Não fazia uma destas desde A Guerra dos Tronos...)